terça-feira, 10 de julho de 2012

Interpretação Textual

Texto para as questões 1 a 5
Viagem longa, destino incerto...

Rubem Alves

Esse é o mês em que sofro mais por causa de vocês, moços. Tenho dó. Ainda nem deixaram de ser adolescentes, e já são obrigados a comprar passagens para um destino desconhecido, passagens só de ida, as de volta são difíceis, raras, há uma longa lista de espera. Alguns me contestam: afirmam saber muito bem o lugar para onde estão indo. Assim são os adolescentes: sempre têm os bolsos cheios de certezas. Só muito tarde descobrem que certezas valem menos que um tostão.
Seria muito mais racional e menos doloroso que vocês fossem obrigados agora a escolher a mulher ou o marido. Hoje casamento é destino para o qual só se vende passagem de ida e volta. É muito fácil voltar ao ponto de partida e recomeçar: basta que os sentimentos e as idéias tenham mudado.
Mas a viagem para a qual vocês estão comprando passagens dura cinco anos, pelo menos. E se depois de chegar lá vocês não gostarem? Nada garante...Vocês nunca estiveram lá. E se quiserem voltar? Não é como no casamento. É complicado. Leva pelo menos outros cinco anos para chegar a um outro lugar, com esse bilhete que se chama vestibular e essa ferrovia que se chama universidade. E é duro voltar atrás, começar tudo de novo. Muitos não têm coragem para isso, e passam a vida inteira num lugar que odeiam, sonhando com um outro.
Em Minas, onde nasci, se diz que para se conhecer uma pessoa é preciso comer um saco de sal com ela. Os apaixonados desacreditam. Quem é acometido da febre da paixão desaprende a astúcia do pensamento, fica abobalhado, e passa a repetir as asneiras que os apaixonados têm repetido pelos séculos afora: "Ah! mãe, ele é diferente..." "Eu sei que o meu amor por ela é eterno. Sem ela eu morro..." E assim se casam, sem a paciência de comer um saco de sal. Se tivessem paciência descobririam a verdade de um outro ditado: "Por fora bela viola; por dentro pão bolorento..."
Coisa muito parecida acontece com a profissão: a gente se apaixona pela bela viola, e só tarde demais, no meio do saco de sal, se dá conta do pão bolorento.
O Pato Donald arranjou um emprego de porteiro, num edifício de ricos. Sentiu-se a pessoa mais importante do mundo e estufou o peito por causa do uniforme que lhe deram, cheio de botões brilhantes, fios dourados e dragonas...
Acontece assim também na escolha das profissões: cada uma delas tem seus uniformes multicoloridos, seus botões brilhantes, fios dourados e dragonas. Veja, por exemplo, o fascínio do uniforme do médico. Por razões que Freud explica qualquer mãe e qualquer pai desejam ter um filho médico. Lembram-se da "Sociedade dos Poetas Mortos"? O pai do jovem ator queria, por tudo nesse mundo, que o filho fosse médico. E ele não está sozinho. O médico é uma transformação poética do herói Clint Eastwood: o pistoleiro solitário, apenas com sua coragem e o seu revólver, entra no lugar da morte, para travar batalha com ela. Como São Jorge. O médico, em suas vestes sacerdotais verdes, apenas os olhos se mostrando atrás da máscara, a mão segurando a arma, o bisturi, o sangue escorrendo do corpo do inocente, em luta solitária contra a morte. Poderá haver imagem mais bela de um herói?
Todas as profissões têm seus uniformes, suas belas imagens, sua estética. Por isso nos apaixonamos e compramos o bilhete de ida... Mas a profissão não é isso. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento...

1. Do primeiro parágrafo do texto pressupõe-se que:

a) Os jovens ingressam cedo nas universidades.

b) Os jovens necessitam de orientações quando da escolha de sua profissão.

c) Os adolescentes são pressionados pelos pais para ingressarem em curso superior.

d) Os jovens escolhem a profissão que lhes pode dar mais dinheiro.

2. No segundo parágrafo, subentende-se que

a) Ao escolher o curso, os jovens necessitam ter conhecimento sobre ele.

b) Os jovens devem ter convicção na escolha da profissão.

c) Nem toda profissão dá ao jovem estabilidade econômica

d) Há profissões que dão “status” ao profissional.

3. De acordo com o quinto parágrafo do texto,

a) Não se deve escolher uma profissão por mero impulso

b) Os jovens dêem possuir informações sobre a profissão que vão escolher.

c) O sentimento é importante na escolha de uma profissão.

d) A paixão por uma profissão implica realização profissional.

4. No sexto parágrafo, o personagem Pato Donald representa a

a) Ambição

b) Avareza

c) Luxúria

d) Vaidade

5. O autor conclui o texto com a ideia que

a) Há profissões que dão mais “status” que outras.

b) Toda profissão tem intempéries.

c) O profissional deve valorizar sua profissão.

d) O bom profissional mede-se pelo resultado de seu trabalho.

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